Charles Bukowsky.

 Conheço este cara desde que eu era libelu na Eco do Rio, atrás do Pinel, na Praia Vermelha.

É da beat generation.

Da geração norte-americana doidona on the road.

Quando eu apresentava a Barka Kultural, na Tv Nacional, na década de oitenta , que na seguinte virou Café Cultural, na Rádio Nacional, bem, tinha um poema do Bukowsky que eu sempre usava.

Agora, saiu uma versão nova, na L&PM Editora, mas eu prefiro a minha, antiga, que sorveu muito do suor do meu sovaco contestador, ainda que marginal.

Por isso, repasso aqui, hoje, neste primeiro dia de uma nova década.

Que ela seja diferente.

Pelo menos . . .

E não mais uma década que chega na lesma lerda de sempre.

Aliás, neste reveillon, levei uma discussão com amigos, sobre o:

VOTO NULO VEM AÍ.

Pá! Pá! Isto é qui é . . .

Ah… estou assim meio zonzo assim porque estou aqui num plantão remelento, na Rádio Nacional, por entre os fantasmas que ainda insistem rondar este prédio encardido.

Por exemplo.

Luís, o grande jornalista que virou mendigo e dormia na calçada aqui em frente, ao lado da esposa, a Inácia (gozado, juntando os dois dá Luís Inácio).

Augusto, o nobre símbolo de outro grande repórter, não aguentou o tranco da vida e virou mendigo em Natal.

Juro!

Tem outros mais.

Dos antigos e dos novos.

Todos eles estão aqui, ao meu lado, agora, dia primeiro de 2010, na Rádio Nacional, lendo junto este poema do velho Bukowsky, que repasso na maior calma deste mundo.

Neste 2010, tem um pássaro azul querendo sair do meu peito

 

 “  Eu tenho um pássaro azul em meu peito

querendo sair

mas eu sou duro demais com ele

e digo:

fica quieto aí que eu não deixo ninguém saber …
 

Eu tenho um pássaro azul em meu peito

querendo sair

mas eu jogo uísque em cima dele

e vomito a fumaça do meu cigarro

para que as putas e os rapazes dos bares

jamais fiquem sabendo que ele

está aqui dentro . . .

Eu tenho um pássaro azul em meu peito

querendo sair

mas sou duro demais com ele,

eu digo:

fica quieto aí

você quer acabar comigo ?

 

Eu tenho um pássaro azul em meu peito

querendo sair

mas eu sou bastante esperto,

sinto a pressão e deixo que ele saia

em algumas noites somente

quando todos estão dormindo

depois o coloco de volta em seu lugar

mas ele ainda canta um pouquinho

lá dentro

por isso eu não deixo que ele morra

completamente

o pássaro azul em meu peito

e nós dormimos juntos

neste nosso pacto secreto

e isto é bom o suficiente para

fazer um homem

chorar,

mas eu não choro,

e você ? ”

 


  JORNALISTAS    NA  ENCRUZILHADA

A história da sindicalização dos jornalistas brasileiros começou na década de 30,  século passado,  a reboque das benesses do governo da época, no caso, do então ditador Getúlio Vargas, que concedeu a jornada de cinco horas diárias e tentou, sem êxito, em 1938, criar escolas superiores que permitissem uma profissionalização, com diploma, que só foi alcançado noutra ditadura, esta militar, em 1969, e derrubado agora, em 2009, no final de um governo democrático de viés popular.

 

Muros de Brasília - photo by Mamcasz

A partir de 1950, os jornalistas brasileiros passaram da fase dita de boemia para a sindicalização que acompanhou o processo de industrialização brasileiro, com a transição das Associações de Imprensa regionais para os Sindicatos, embora, no âmbito nacional, a Associação Brasileira de Imprensa -ABI – tenha mantido presença marcante, a partir do golpe de 1964, quando os sindicatos dos jornalistas ganharam juntas interventoras, até decair novamente, em termos de participação nacional, desde o impeachment do primeiro presidente civil eleito depois dos militares.

 

Muros de Brasília - photo by Mamcasz

A reação dos jornalistas brasileiros voltou a acontecer na década de 70, com a retomada dos Sindicatos por nomes de peso, a exemplo do Distrito Federal, onde entrou Castelinho (famoso colunista Carlos Castelo Branco), seguida de lutas enormes contra a censura, pelas Diretas Já para presidente,  de protesto por mortes de jornalistas,  o caso maior foi o de Vladimir Herzog, na prisão política em São Paulo, encerrado este ciclo com a realização de  greves de jornalistas que tinham apagado do imaginário de toda uma geração esta forma de luta de classe, ainda que corporativista.

 

Muros de Brasília - photo by Mamcasz

Finalmente, advindo o processo de transição para a democracia (saída dos militares, chegada do primeiro presidente civil eleito indiretamte – Sarney –  e afastamento do primeiro eleito diretamente – Collor), os jornalistas se encontram agora numa encruzilhada, na fase pós Informática,  perdendo cada vez mais espaço para blogueiros, lobistas, comunitários, ongueiros, assessores e outros estranhos no ninho, o mesmo acontecendo com o sindicalismo e seu envolvimento partidário, não mais político, com   preferência pelo singular  PT – CUT, e se distanciando cada vez mais   do centro da meta da maioria da classe.

 

Muros de Brasília - photo by Mamcasz

Em síntese, a classe dos jornalistas brasileiros está sem rumo, desunida, desinteressada e sem bandeira, perdida diante de investidas como o fim da exigência do diploma ou da malsucedida criação do Conselho de Comunicação Social, sofrendo da ausência de bandeiras comuns de luta e de nomes brilhantes para modernizar o movimento sindicalista do jornalismo brasileiro. 

 Enfim, devido à opção pelo singular e não pela ação pluralística, que envolva a maioria, o sindicalismo brasileiro referente aos jornalistas está nas mãos de meia dúzia que diz representar os interesses de milhares de profissionais que preferem o silêncio dos inocentes.

O que vai sair disso, ninguém sabe, nem quando, e muito menos onde.

 

Muros de Brasília - photo by Mamcasz

Boca no Trombone

 Eduardo Mamcasz

 

( Jornalista profissional sindicalizado desde 1977, primeiro no Rio depois em Brasília,  formado na UFRJ,  com passagens nos jornais O Globo, Folha de São Paulo e EBN-EBC, entre outros. Este texto foi preparado para o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), a pedido, por uma turma duma Faculdade de Comunicação em Brasília, quer dizer, no Distrito Federal, porque na cidade de Taguatinga. )

 

 


Caça aos fumantes - photo by mamcasz

Esta é uma campanha da CIPA 1, da área administrativa. Não tem nada a ver com a CIPA 2, da área-fim, que continua na briga pelo fim das insalubridades, principalmente a causada pelas ondas magnéticas da radioatvidade, também provocadora de câncer, além de batalhar por um ambiente de trabalho mais sadio, com nova sede e tal.

 

Fumódromo - photo by mamcasz

 

Não seria melhor ajeitar o visual do fumódromo do que ficar mandando  os futuros Fantasmas da Rádio Nacional direto para o cemitério? Isto fica me lembrando a sacana da minha avó polaca, babucha Sofia, no interior do Paraná,   que fazia a gente bem criança responder no ato, antes de ganhar o fato, na forma de um doce qualquer. Repasso a pergunta de minha avó: 

 

– Se o piá aí um dia estiver  morrendo de fome, o que você escolheria comer para continuar vivo: merda, ranho ou catarro?


                             Francenildo, o caseiro, agora vivendo de bicos (je vive du béc, diria o velhinho Jô de Taubaté), é o próprio fantasma na imagem dele adentrando o  teatrológico Supremo  Tribunal dito  da Justiça, ao ser colocado pelo advogado, de olho na indenização pela quebra do sigilo da conta bancária (30 moedas, ditas mil, que o soberano Pallófi, ora absorvido sem nem mesmo pedir perdão, ou muito menos pagar penitência, pois bem, eram 30 mil pacotes de real para que o caseiro se desfizesse de vez do pai dele, lá do distante Ceará que, com isso, iria escapar do teste da paternidade em cima da empregada doméstica (estou escutando André Dusek: Doméstica!!!).

O caseiro do Palloci e o motorista do Collor passeiam por Brasilha

Utopia de Merda. photo by mamcasz 

                        Adonde estava mesmo? Ah… O caseiro Francenildo, de terno, qual índio tupiniquim na corte européia postado, pelado é que deveria ter ido para encarar os supremos juízes e os impolutos desviados do escândalo que começou numa casa de putas no ínclito bairro do Lago Sul, Brasília, onde, entre uma pimbada ou outra (seria cheirada?) acertava-se a bolada porque era mais do que isto que rolava. E o caseiro com isso? Porra, meu, vou ter que explicar tudo? Ele ali, só observando, na santa e humilde ignorância dos falsos parvos da Bolsa Família.
                            Mais uma e acabo esta introdução (só doi quando rio). E o que o julgamento do Palófi-Marcelo tem a ver com Os Fantasmas da Rádio Nacional? Porra, meu, hoje você ta difícil de entender as coisas. Ou não? Hein? Ou você se associou de vez à  Omissão Coletiva? Então, vamos lá:

                         1 – O Marcelo  foi presidente da Rádio Nacional (Radiobrás no ex-governo do atual Collor). Demitiu pra caralho. Alguns, voltaram, pela Justiça, e hoje continuam pastando, tranquilamente, e ruminando, que nem vaca,  entre eles o principal fantasma, que hoje pode ser visto, calado e, portanto, não ser ouvido, jamais, no caso, aquele motorista da Casa da Dinda, que viu a mutreta daquela merda do Fiat mais os jardins babilônicos e tal que levaram o então presidente a uma situação … bem … de nababo da República, senador, amigo do Lula, ínclito personagem representativo de todos os nós. E o Marcelo? Porra, meu. Pois ele era o assessor de imprensa do Pallófi que distribuiu o extrato da conta do caseiro, ora travestido de terno e, corrijo, antes que coloquem o nabo em mim, mas se sobrar, foda-se, sou morto, não estou mais vivo, mas mesmo assim, dito : teria distribuído….

                       2 – O caseiro Francenildo também “teria” sido desmascarado, desmentido, desmistificado, enxovalhado… E por que o caseiro Francenildo então não está preso, não existe Justiça mesmo. Porra, vou terminar.  Quem enxovalhou o caseiro hoje é uma das pessoas-chave da Rádio Nacional (EBC, no governo Lula). E então, a sua cabeça está começando a se abrir ou vou ter que dar uma bela de uma porrada nela, hein?

                    Moral: Notícia de jornal. O caseiro Francenildo está condenado, no lugar de indenizado mas,  para não pegar mal, por causa dos nababos soltos, ele prestará serviços alternativos, do tipo  palestra nas escolas da periferia fodida de Brasília. Mas o tema terá que ser o seguinte:

                    COMO DEIXAR DE SER BABACA.

 

 

 


                     
                        De ordem deste Sr. Escrevente e na inconformidade doe que afundaram, ao longo dos anos, nessa nossa definhante presença auditiva, sejamos senhoras, senhoritas, cavalheiros e sobrinhos, efetivados ou escorraçados, certos ou desmoralizados, de quatro ou de joelhos, estamos todos convocados para esta Asembléia Geral Extraordinária, a ser realizada no dia 30 de fevereiro, sexta-feira, à meia noite quase zero hora do sábado de Hallelluya, na decadente sede encardida, situada no início da W3-Sul de Brasília, Distrito Federal, ou no centro da prostituída Praça Mauá, número sete, na zona portuária do Rio de Janeiro, em primeira e única convocação, com a participação de qualquer inda que ínfimo quorum, para tratar da criação do Estatuto desta Entidade que passa doravante a ser denominada “ OS FANTASMAS DA RÁDIO NACIONAL ”, em atendimento à legislação pertinente ao muito além do que imaginam corroídas mentes em processo de apodrecimento em plena vida, sejam os antigos desnivelados ou os novos rapidamente em processo de transmutação em funcionário público acomodado com a vala comum que a todos demonstra imenso poder de atração constante desde os primeiros acordes do Luar do Sertão, nos idos de 1936, (14h58m, sábado), na inauguração da PRK-30.
Greve 2008 - photo by Mamcasz  A Comissão dos Funcionários Convoca. 
                      Promovem o presente quorum de fantasmas exigido para a realização desta Assembléia Geral da Rádio Nacional os suicidados de fato no ato falho do certeiro cotidiano, os que perderam a voz no pretérito aqui consignado, os que lavaram a alma e perderam a calma em míseras causas sem efeito, por serem estes assuntos prementes no inconsciente coletivo de extintos, médios e superiores técnicos, apresentadores, produtores, escrevinhadores e aporrinhadores que, em primeira e única convocação, com qualquer número de associados afetivos presentes, declaram-se de alma liberta para agruparem os que se arrastaram vivos e, mesmo assim, viram-se passantes da paisagem do filosófico barqueiro que os trouxe para este convívio final com os trapos e farrapos recolhidos desde as glórias da fama da década de quarenta até a fase pós a praga lançada pelo velho Getúlio na alcova do Catete, e cuja carta foi de estalo falsificada para a pungente leitura nos microfones então potentes do Repórter Esso, alô, alô, ouvintes, atenção para o prefixo que estamos começando, a partir de agora, para valer, este emocionante relato de uma porrada de vidas perdidas na lida radiofônica nacional.
                    Três. Dois. Um. Atenção para o último toque. Vamos trabalhar, cambada!

 
                     O palco do desenrolar deste relato de dramas constantes se situa num encontro de fantasmas da Família Nacional (ler Evangelho 5), de madrugada, no ainda hoje encardido e tombado calabouço onde funcionaram os primeiros cinema, rádio e televisão de Brasília (ler Evangelho 6), no começo da W-3 Sul, inaugurado às oito da noite do dia 4 de Junho de 1960, pelo presidente Bossa Nova, o JK, que desceu do novíssimo Simca-Chambord aos primeiros acordes do Hino da Pátria que nos pariu sob a batuta do maestro Radamés (ler Evangelho 7), seguido do show famoso Ermelindo (ler comentário 8), todos saídos direto da Praça Mauá, número sete, no Rio, via Avenida Brasil.
                      Mas falando neste Ermelindo, então artista principal da Rádio Nacional, com mais cartas de ouvintes do que votos para o presidente, acontece que, quatro anos depois, e seu fantasma está hoje aqui entre nós para confirmar, entregaria nas garras dos gorilas (ler Evangelho 9), os 61 profissionais da Rádio Nacional do então Rio por ele considerado subversivos,  sem contar outro astro daquela mesma noite, o Dilermando (ler Evangelho 10), que encantara a todos com a versão candanga do Peixe-Vivo (ler Evangelho 11), o Mário,  que depois foi salvo pela Dercy, o Dias, o Gracindo, o Walter, e até o Ovídio Chaves, que o Ibrahim Sued chamava de Carlos Machado (do teatro das mulatas de Revista) dos Pampas e que por causa deste filho da puta do César foi preso pelos milicos e sabe o que fizeram com ele, conta aqui pra gente:
fantasma 01
                          – É o seguinte, gente. Eu era da Rádio Nacional. Fui então preso por crime de opinião e por isso torturado pra caralho, literalmente, taí o Fausto Wolf que não me deixa mentir,  mesmo depois de morto. Daí,  eles fizeram o seguinte comigo. Botaram meus colhões dentro de uma gaveta e fecharam assim de repente. Puta que pariu, nunca senti dor pior do que aquela. Mas agora confesso que fui salvo mesmo é por causa de outro milico, amigo do meu pai, o general Cordeiro de Farias. Porra, vamos mudar de assunto, cambada?

 


                       Foi memorial a festa de inauguração do agora local deste  nosso encontro de  mortos da vida fodida,    neste pardieiro da Rádio Nacional que até auditório com Orquestra Sinfônica e tudo já teve na História, que agora acaba de ter a parte norte decepada pelo governo do Distrito Federal  para dar lugar à segunda via de ligação entre o Parque da Cidade e o Setor Comercial Sul.
                     Aliás, foi justo nesta parte demolida,  hoje asfalto, porque  usurpada do público  pela Rádio Nacional que,  e me desculpe a produtora aqui se presente  se matou , uma camarada e desacompanheira que levava, em vida, nome de flor (ler Evangelho 12) mas que, em verdade, era um espinho só , tanto que, suicida assumida,  jura,  ainda hoje, e vai repetir aqui para a gente, que muitas outras mortes irão acontecer neste mesmo local por onde o policial-repórter Mário (ler Evangelho 13) passou, final de programa radiofônico, no comando da madrugada,  vindo doutro espaço,  no ali setor de Rádio Sul,  perto da meia-noite, pouco antes de ser assassinado,  que relembre a tumultuada despedida o ainda produtor-técnico, o plantonista Chiquinho (ler Evangelho 14), ainda não presente aqui entre nós, que tal a gente fazer uma outra visita antes que ele saia para a pescaria no Bartolomeu chamado de santo.

Central - photo by Mamcasz

                Falando nisto, está aqui conosco para confirmar direitinho esta história o companheiro Jonas (ler Ofertório acima), que passou duma para outra num micro-ônibus naquele longo trajeto entre Belém do Pará e Brasília, depois do Forum Social Mundial, onde ouviu tanta baboseira e asneira antes de pegar estrada, e não avião, reservado aos colegas ditos de superior curso, e que antes de se enuviar também recebia nossas visitas naquele porão da Rádio Nacional que na origem serviu de frigorífico desmanchador de vacas mortas, embora tenha gente garantindo que, na verdade, foi mesmo o primeiro necrotério de Brasília.

            

 


                         Então façamos o seguinte, camaradas e companheiros aqui reunidos neste pós-vida em memória às centenas de grupos de trabalho, reuniões de equipe, etapas de avaliação e mesmo festinhas de aniversário recheadas de falsidades amplas e gerais, churrascos plantonizados e arrooubos natalinos, não é mesmo Marlene Emilinha?
                         Botemos para fora qualquer sentido de ordem que engulíamos mudos, no passado, para não perdermos a prorrogação de jornada que limitava a nossa vida mas, enfim,   livremo-nos de vez daquela absurda auto-censura, do  pecado da omissão coletiva, do mutismo puro e simples  que, no pré-morte, éramos incapazes de mandar a pessoa responsável para a puta que a pariu mesmo que no mais leve pensamento calado.
                        Neste encontro de nós, todos teremos vez e voz, mesmo o Garcia (ler Evangelho 15), que foi calado pela heroína, apresentada pelo vagabundo Narciso (ler Evangelho 16), que  cantou  seresta aqui mesmo, nesta Rádio Nacional,  primeiro para o presidente Bossa Nova e depois foi lamber bosta na estrebaria do João, o general-presidente, a quem nós, almas aqui penasdas, também servimos por igual, tal qual ao metalúrgico da Beth  (ler Evangelho 17), que também nos encantou nos primeiros dias de sonhos de uma esperança perdida.
                       Mas acontece que tudo isto é nada, sabemos agora que estamos nesta lesma lerda de antes (ler Evangelho 18), tenhamos sido santos ou putas nacionais como a senhorita que, no andar aqui de cima, dava o rabo para o gerente e depois fodia a gente, lembram-se?

pixacao bsb

                       Vou mais à frente. Lembram-se daquele gerente de rádio que foi pego pelo contínuo dando o rabo, de lado, para o superintendente, ao som de “vem cá, meu dog? Falo (pensamento ralo, o que hei de fazer) mas disto garanto porque a mulher deste superintendente, tempos passados, nas ladeiras de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, me afiance, amigo Tim, numa bela madrugada, depois de fazermos uns “Do-des-ka-dens” nos trilhos surdos do bondinho, também a havia enrabado, veja você como é uns dias atrás do outro.

                     


                      – Cala a boca desta levada, Juscelino (ler  Evangelho 19),   senão você também volta a levar porrada,  mesmo que  já tenha passado  por este calabouço da Rádio Nacional,  agora encardido, numa madrugada fria,  travestido de popular, o mulato motorista no lado direito do banco do carro pedido emprestado, cagando de medo dos milicos descobrirem, pois haviam proibido o seu pisar qualquer outra vez em Brasília, e você saía escondido de seu sítio em Luziânia, seu médio médico me contou, na Zona do Ponto Zero. Mas isto foi  na sua vida passada, porque, agora,  tanto faz, somos donos,  outra vez,  das famosas asas da liberdade e, por estarmos mortos, não precisamos nem mesmo de Panteão (ler  Evangelho 20) e muito menos da morada provisória no Campo (cheio) de Esperança (ler  Evangelho 21).
PLACARADIO
                     Aqui, neste encontro, que se confirme em ata, caro Juscelino, continuas herói da Rádio Nacional, até porque pediste ao Israel (ler  Evangelho 22) que se fizesse de zonzo diante da primeira invasão de sem-teto acontecida em Brasília, a nova capital,  cometida por um grupo de colegas nossos, aqui presentes sem mais necessidade de teto ou terra, num tempo em que ainda havia espaço para tanto, ao contrário do amigo Inácio , morto por doses maciças de cachaça que o levaram a subir de Editor-Chefe da Sucursal do Jornal do Brasil a Bêbado-Oficial do Repórter Nacional (ler Evangelho 23), com primazia  para dormir na calçada aqui em frente, debaixo do pé de manga, junto à guarita de entrada. hoje modificada mas  que levava o fictício nome de Luís Otávio, o Tenente (ler  Evangelho 24) só porque tentou matar o então presidente Zé do Sarney ( ah… os fantasmas nunca morrem, ditava Bond, o James).

                      Antes de começarmos esta sessão propriamente dita, dispomos aqui de relatos de desconfortos observados por alguns sobrevivos, assim qualificados uma vez que já passaram da fase de sobreviventes mas ainda não fantasmas propriamente ditos e que, devido a essa condição, encontram-se mais suscetíveis a tremores causados por alguma alma penada entre nós postada que continua, por exemplo, a fazer mexidas sutis no script da Voz do Brasil, sutis agora porque no antanho desde os tempos da Agência Nacional, herança do Estado Novo, e depois na Dita Branda-Dura, continuando, na dita Nova República, enfim, o dito personagem editor era dos mais leais ao macado de plantão no galho seco, mesmo que colorido. Pois bem. Não é que esta alma penada   porque da equipe ainda não desencarnou encontra-se, sacanamente, agora mexendo no script no que, em vida, nunca teve um pingo de coragem?

Abiaxo da autoridade - photo by mamcasz

 

                  Tem outra ainda alma viva que sente a passada leve dos ombros arqueados de uma,  dita por ela,  assombração (ler Evangelho 25) que,  no Radiojornalismo, transparece apenas ao ente que não era por ela querido, causando-lhe descrédito junto aos demais convivas dos escombros do que um dia foi uma redação de gente.
               Vamos ainda discutir aqui a validade da maldição continuada em cima dos redatores em línguas estrangeiras que nunca mais conseguiram firmar a posição adquirida no século já passado. Outra alma já danada,  simplesmente insiste em colocar, nos hiatos sonoros das gravações feitas por estagiárias esperançosas, imperceptíveis gafes que são exploradas pelas vetustas e mal-amadas editoras cheias de rugas e rusgas daninhas. Juro que tudo aqui descrito não passa simplesmente de verdade, tão somente, verdade.

                          Outro assunto importante a ser decidido nesta, esperamos, interminável sessão, diz respeito aos procedimentos vingatícios que tomaremos caso o frei Vanildo (ler  Evangelho 26) não volte a ocupar o mesmo espaço deste agora encardido calabouço para oficiar as velhas missas ao vivo pelas ondas potentes, embora curtas, da Rádio Nacional da Amazônia, nos abrindo o espírito dos tradicionais horários matutinos de todos os domingos, prerrogativa católica conseguida durante o Estado Novo.
                              
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Poema de Cora Coralina. Edição de Eduardo Mamcasz.

                        A Comissão dos Funcionários Informa:
                      Exigimos  aumento do espaço destinado, durante a missa, ao momento da oração pelos defuntos, ou seja, nós mesmos constantes desta pós-ata, e também que o encontro seja alterado para ecumênico, com a participação  de uma ou mais mãe-de-santo, de terreiro guarnecida, uma vez que estamos mais necessitados do etéreo do que a  carne, que se revelou totalmente inconsistente diante dos vermes e, por isso, desnecessária e desmembrável do passado e do porvir.

                     Damos então início de fato  a esta sessão, convocados que fomos por edital nacional , tanto que estamos  aqui presentes,  artistas cariocas – candangos – amazônicos (ler  Evangelho 27), perseguidos na política e na prática,   disponibilizados – dispensados – despedidos – sacaneados – condenados pela deficiência física , sinônimo de excesso de idade calculada através de metafísicos assassinatos impostos por chefetes prepostos, mesmo que passageiros. 
                    Encontra-se aqui presente a proposta de atitutes a serem tomadas, a nível psíquico, contra   a chefeta que determinava obrigatória reunião dos funcionários na residência dela, nas tardes de sábado (ler  Evangelho 28), a mesma  que quando ficou grávida todos desejamos a não-vinda a este mundo da filha da puta  que, afinal,  veio.
                   Ao lado dessa senhora  também será objeto de nossa análise perfunctória a passada situação de muitos aqui presentes que   de estressados passaram a depressivos e alguns  se  viram  suicidas, em certos momentos, diante de certeiros abates cometidos no insistente cotidiano explorado numa lídima visão  360 graus (ler Evangelho 29).

 

0006

Cidade de Goyaz (Goiás Velho). Trecho de poema de Cora Coralina. Edição de Imagem de Eduardo Mamcasz.


                Nós declaramos ( nós quem? ) aberta   esta  ASSEMBLÉIA GERAL DOS FANTASMAS DA RÁDIO NACIONAL, agora que é meia-noite de sexta-feira,  um segundo a mais passa a zero hora  do sábado  de Hallelluya (ler  Evangelho 30),  porque seguidos  foram todos os  trâmites citados no edital de convocação e completada   a  chamada única com as presenças provindas de três elementos, quais sejam, o fogo do inferno, o ar do paraíso e a água morna do purgatório que, infelizmente, assim na vida como na morte, faz-se aqui presente  em maior número, no velho círculo vicioso que se observava na terra.
              Alertamos que não temos  término previsto, mesmo porque nosso pós-vida de almas devedoras de penas só se extinguirá com a derrubada deste pardieiro da W3-Sul e com  a implosão do mausoléu da Praça Mauá, onde perdemos nossos melhores anos de vida, mais a queima em praça pública das subchefias que trocaram a alma por um arremedo de calma, às nossas custas. Senhoras, estagiárias, sacanas e eternos aspones.

 Plano 2008 - phto by Mamcasz

             Está aberta esta sessão espírita  com discussões sem discrição, sem direito a veto, mesmo aos que nos perseguiram – demitiram – sacanearam – abusaram – torturaram -menosprezaram – desrespeiteram e se fazem aqui sofrentes.

                    Em estando aberta esta sessão, sublimamos a palavra a uma alma condenada porque em vida, falso poder nas mãos – sabia eu que ela tinha acabado de levar mais uma das dezenas de porradas desferidas com gosto pelo marido jornalista, meu ex-amigo – certa feita, por conta da passageira função na Rádio Nacional, numa comoção histórica, olhou-me nos olhos e disse, sorridente : “Mamcasz, eu quero ver você sentir dor”.
                  De fato, eu senti. Fui fundo. Quase morri. Impossível o ressuscitar depois de tentativas aos milhares, forçadas do fundo desta alma, porque o corpo foi queimado por opção, diferente do que aconteceu com o amigo Tim , com quem dividi temores e até mesmo os bondes de Santa Teresa e a quem ofereço todas estas e outras letras infindas.
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Photo inicial do video No Reino de Aninha. Poemas de Cora Coralina. Música de Helena Meireles. Edição de imagem de Eduardo Mamcasz

         Na última viagem a Chicago, (12 maio 2009), no Blues Bar,  me aparece um jovem e imbecil soldado americano recém-chegado do Iraque, com os seguintes dizeres na camiseta:

A DOR É A FRAQUEZA DEIXANDO O CORPO.


              Pois é. 
              Parodiando o nobre mulato gaúcho-mangueirense  (Tim Lopes, ler Ofertório), informo estar dando  linha à pipa  para a  extinta companheira, morta numa praia deserta em Santa Catarina, onde deixou com vida o ex-esposo, agora batendo em outras caras que nem as dela, nunca mais inteiras embora caras-metade, parecidas com dezenas de outras batalhadoras companheiras jornalistas que contrapartilhavam as surras a  domicílio com os desmandos no trabalho ganho com o suor do rosto, tarefa que teria sido dado aos machos, no lançamento da praga divina aos descendentes de Adão,  mas que elas acumulavam com o resultado da trepação inconcluída mas o suficiente para o fardo dos nove meses .
         É este, portanto, o tom das almas penadas femininas que passaram pela Rádio Nacional, desde os velhacos tempos do Herivelto colocando chifres na Dalva enquanto o Orlando caía de beiço nas seringas da heroína no mesmo banheiro de onde foram salvaguardadas, na fase final, algumas preciosas gravações saídas do mofo para entrar na histório da Rádio Nacional através do trabalho feito pela BBC em Londres, em cinco LPs, CDs e agora DVDs, pois a terra move mesmo, sô.
        Bom. Vamos à luta, então, seus fantasmas de merda, que vão e voltam, encarnam e desencarnam e nunca conseguem escapar, vivos ou mortos, desta praga viciosa chamada rádio.
       Com isto, dou início á ata de fato da Assembléia Geral dos Fantasmas da Rádio Nacional. Avante porque esta fala não é rala e nem cala.
Antena radioativa - photo by Mamcasz
           Diante da urgência de medidas concretas para estancar o aumento da radiação e da insalubridade que continuam colocando em risco a saúde e até a vida dos funcionários, nós,  seus legítimos representantes na CIPA II, a quem devemos compromissos assumidos, e diante da morosidade da empresa em tomar as medidas legais para a nossa posse, um mês depois da eleição, contamos com o seu apoio, através deste abaixo-assinado, que será encaminhado à Delegacia Regional do Trabalho  e  ao Ministério Público do Trabalho, com a   exigência de envio imediato da fiscalização   da DRT-DF,  junto com a equipe do Corpo de Bombeiros, para realizar uma perícia completa, inclusive medição da radiação, em todo o prédio-sede da EBC, na 702 norte, Brasília. Este é o nosso primeiro ato:

 

Brasília, 12 de setembro de 2008.
Nome completo                                                                             Assinatura

 

 
         Moral: Foram colhidas 237 assinaturas. Até hoje, não deu em porra nenhuma. A não ser, mais casos de câncer e mortes. Continua tudo na lesma lerda ( modo politicamente correto de dizer na mesma merda).